...De acordar com um quente sopro materno que assinalava mais um dia de pura inocência.
Desenvencilhar-me da espessa camada dos cobertores que me tapavam – sim, sou friorento – e aferir a temperatura com a ponta do meu pequeno nariz. Abandonar a toca com a aconchegante ilusão de aproveitar o presente, de forma genuína, sem perspectivas caóticas sobre o futuro. Vestir cada peça de roupa – como sendo uma armadura de um cavaleiro – e carregar às costas os utensílios da sapiente conquista. Beijar a família e partir.
Calcorrear cada pedra da calçada, chutando com malícia as que se encontravam soltas e, ouvindo os seus murmúrios ancestrais, até encontrar os trilhos certos que me guiariam até ao portão dourado da esperança.
Almejado o portão queria atravessa-lo e correr entusiasticamente para braços amigos que a noite anterior teimou em levar sem pedir licença.
Escolher a carteira que me inspirava maior confiança, marcando-a como um local de culto. Pegar nos lápis coloridos e desenhar no fundo branco da folha o melhor dos sonhos num dia cinzento de temporal.
Sentir-me seguro em cada risco traçado, cada linha construtiva do meu ser, sem receio dos tumultuosos relâmpagos.
Acompanhar o toque da campainha com um histérico e ofegante grito de:
“ Recreiiiiiiiiiiiiiooooooooooooo “.
Mesmo intimidado com a chuva, recebia-a de braços erguidos para o céu, inundando o meu pequeno corpo de água. Era motivo suficiente para pedir um caloroso abraço da singela princesa. Corpo e coração reconfortado o cérebro era facilmente iludido e tudo parecia uma onírica epopeia.
O fim do dia aproximava-se e voltava-se para casa com o sentimento que o amanhã seria ainda mais radioso.
Sinto falta desses dias.
Um comentário:
Eu tb...bons tempos esses!
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