
A minha existência era demasiado precoce para perceber o significado daquelas míticas imagens que nos chegavam de Berlim.
A alegria com que as pessoas destruíam e transpunham o muro, repletas de coragem e esperança contagiantes, legitimavam as minhas tropelias de infância.
Para a geração pós-25 de Abril a queda do muro de Berlim foi o remake da Revolução dos Cravos.
Finalmente tínhamos a oportunidade de assistir a um importante acontecimento histórico com a carga simbólica intemporal que se impunha.
A revolução.
A liberdade.
A reposição e unificação de valores que pareciam irremediavelmente dilacerados por uma barreira física e ideológica.
Curiosamente, passados 20 anos, a civilização continua a derrubar muros que, teimosamente, constrói.
Um processo de criação e destruição constante, reflexo da complexa (e perversa?) mente do Homem.
E isso começa por cada um de nós.
Escudamo-nos num muro de ideais e preconceitos, numa redoma egoísta, que nos dão a falsa sensação de protecção.
Só quando o muro se desmorona é que atingimos a plenitude da felicidade.