
Ali estava ele. No canto da sala, com os olhos perdidos no chão e o silêncio a ritmar-lhe a respiração. O sorriso fácil, com que brindava tudo e todos tinha, simplesmente, evaporado. A candura que costumava exibir nas suas brincadeiras, estava ali enterrada, na sombra que lhe cobria os sonhos.
Sonhos esses desfeitos pela troca de carícias e olhares cúmplices, que dolorosamente assistia, entre um colega e a sua menina de olhos verdes.
Por momentos, vi através dele, a criança que fui e ainda sou.
Aproximei-me dele e perguntei-lhe: "É por causa dela?"
Respondeu: - “Sim, é.“
Retorqui: - “Não me digas mais nada.“
Ficamos os dois, por alguns instantes, de braços cruzados, a contemplar o vazio.
Imbuído de serenidade e experiência, resolvi confortá-lo:
- "A verticalidade e a simplicidade não se devem trocar pela exuberância. Não tentes dar nas vistas quando a tua natureza é a oposta. Não desvies o teu carácter nem por um ínfimo milímetro. Orgulha-te de quem és.
Se não consegues conquistar a Lua, tens o Sol para conquistar."
Subitamente, surgiu um esforçado sorriso no seu rosto, e um olhar carregado de esperança. Ainda meio entorpecido, articulou um comovente - “obrigado”.
A vida no seu expoente